quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Ontem

Voltei ontem, mas ainda estou lá.

Acordei achando que o sonho foi bom e me lembrei de você.

Sonho é tocar seus cabelos numa noite de frio,
beijar seus lábios sob teu olhar de tempestade.

Queria enxergar por trás do olhos. 

Entender seus desejos, descobrir tuas fantasias.

Tua companhia sagrada.
Novamente ao meu lado, respirando.
Olhando pra mim daquele jeito.

Tua companhia, tua vizinhança, teu sorriso 

teus mistérios, seu lugar na mesa.

Eu voltei ontem mas ainda estou lá.

Me lembro do quanto queria te dizer, 

De como preciso acariciar teus cabelos, 
beijar sua boca,
e ver a noite chegar nos teus olhos de tempestade.

Pisa Fundo

Entrou no carro e deu a partida. 
Fechou a porta fazendo força para não pensar em nada. 
De decisão tomada acelerou engatando a primeira marcha para cantar os pneus. 
Cantou. 
Fugira dali como num filme, como se a casa fosse explodir.

Acompanhou-a pelo espelho retrovisor. 
Aquela parte de sua vida ficando para trás. Concentrando-se mais na imagem do espelho do que na projeção da estrada esquentava-se por baixo de seus pneus. 
Metáfora perfeita. Sabia que jamais voltaria.

Fitou sua imagem no espelho até não conseguir mais. Trocando as marchas de seu carro poluente já com o cigarro pela metade entre os dedos. 
Procurava as músicas do aparelho de som com o desespero de alguém que busca um colete salva-vidas em um barco que se afunda. 
Jaco Pastorius naquela porta de boate saberia o que ele estava sentindo.

As placas da estrada anunciavam seu destino. 
Não as dava atenção de propósito. 
Olhava seus reflexos afastando-se pelo retrovisor. Dirigiu às cegas até que retomasse a consciência. 
Via o nomes das cidades que passavam escritos ao contrário. Lugares novos que ficavam para trás.

Lembrava de seus olhos tristes o fazendo uma pergunta silenciosa. Esperando uma confirmação que ele não queria e nem iria dizer. Olhos borrados de lágrimas esparramadas por seus dedos delicados.

Sua maquiagem escorrida ficaria estampada em sua memória por muito anos. Maquiagem barata compra às pressas em algum lojinha perto dali. por mais que quisesse esquecer. Ele sabia disso. Não voltaria jamais.

Mas nesse momento ele só queria correr para longe dali.

A Minha Mulher Briefing


(por favor, não leve este texto a sério...)

Ela tem que ser linda. 
Linda de tirar o sono e perder a fome. Inteligente, safada e cheia de soluções. 
Repleta de histórias. Um punhado de piadas e tem que imitar vozes ao ilustrar histórias.

Ela tem que ter mais tatuagens do que eu. Menos piercings, (ou o que sobraram deles) e mais senso de humor. Um pouco de paciência. 
Seria melhor se ela fosse careta. E que não fume.

Ela tem que ter lido mais livros que eu. Alguns em francês não fariam mal. Manjar de cinema e ter o dom único de me fazer gostar de teatro. E de milho. E daquele cara da TV que se veste de mulher e as pessoas acham engraçado. Duvido.

Ela tem que manjar um pouco de Jazz. Pelo menos um pouco. E tocar um instrumento. E dançar. Ter mais disciplina para fazer coisas até o fim. Vou  achar lindo e ficar com uma pontinha de inveja. Ah e tem de  digitar mais rápido do que eu. Duvido.

E ter um pai que trabalhava com aeromodelos ou miniaturas ou alguma coisa bem divertida para eu imaginar que o avós dos nossos filhos serão os mais bacanas do universo. 

Ela tem que ter irmãos mais velhos e a boca suja de um feirante do porto de e Santos. Pra falar palavrão e me dar socão no braço quando tiro sarro dela porque ela perdeu nossa aposta. (e não pagou ainda...)

Ela tem que ter um bicho. E não pode ser gato. Mas se for tudo bem. Também não pode ser uma iguana ou aquele lagarto albino nojento de aquário que parece um catarro. Nem peixes. Um cachorro ciumento que não solte muito pelo seria OK. Não pode chamar Marvin e nem Marley porque cachorros com estes nomes sempre morrem. Não precisa nem ver o filme. Viraríamos melhores amigos. E eu ironicamente viraria um dono de cachorro.

Ela tem que cozinhar melhor do que eu. E manjar de vinhos para eu continuar bebendo cerveja e ela ficar bebassa no final da noite. E tem que ter carro. Para eu voltar dirigindo com ela bêbada de vinho ao meu lado. Trocando as músicas, pilotando o ar-condicionado deitada no meu colo numa manobra contorcionista evitando o freio de mão no pescoço, nas ruas à noite.

Ela tem que ser mística. Acreditar em quase todas as religiões e não ser de nenhuma. Fazer Yoga e meditação e não ter aquele “Spirit Catcher” australiano ridículo (funciona?) na janela do quarto. Nem aquele mensageiro do vento que faz barulho que não ME DEIXA DORMIR!!! E ser Mac User. MacBookPro 15”.

Ela tem que ter sido modelo. Ou a mais bela da turma de amigas. A mais popular do primeiro grau. 
Ela tem que se vestir como uma estilista. Simples assim. Meio Punk, meio Hippie, meio Laggerfeld. Algumas peças do meu primo Neon não fariam mal. Seria uma coincidência boa para os primeiros encontros. 

Imitando sua voz engraçada, ilustrando a estampa que ajudei a fazer num guardanapo de pano, manchado de vinho, deitado em seu colo, pensando em alguma coisa safada a caminho de casa.