quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Pisa Fundo

Entrou no carro e deu a partida. 
Fechou a porta fazendo força para não pensar em nada. 
De decisão tomada acelerou engatando a primeira marcha para cantar os pneus. 
Cantou. 
Fugira dali como num filme, como se a casa fosse explodir.

Acompanhou-a pelo espelho retrovisor. 
Aquela parte de sua vida ficando para trás. Concentrando-se mais na imagem do espelho do que na projeção da estrada esquentava-se por baixo de seus pneus. 
Metáfora perfeita. Sabia que jamais voltaria.

Fitou sua imagem no espelho até não conseguir mais. Trocando as marchas de seu carro poluente já com o cigarro pela metade entre os dedos. 
Procurava as músicas do aparelho de som com o desespero de alguém que busca um colete salva-vidas em um barco que se afunda. 
Jaco Pastorius naquela porta de boate saberia o que ele estava sentindo.

As placas da estrada anunciavam seu destino. 
Não as dava atenção de propósito. 
Olhava seus reflexos afastando-se pelo retrovisor. Dirigiu às cegas até que retomasse a consciência. 
Via o nomes das cidades que passavam escritos ao contrário. Lugares novos que ficavam para trás.

Lembrava de seus olhos tristes o fazendo uma pergunta silenciosa. Esperando uma confirmação que ele não queria e nem iria dizer. Olhos borrados de lágrimas esparramadas por seus dedos delicados.

Sua maquiagem escorrida ficaria estampada em sua memória por muito anos. Maquiagem barata compra às pressas em algum lojinha perto dali. por mais que quisesse esquecer. Ele sabia disso. Não voltaria jamais.

Mas nesse momento ele só queria correr para longe dali.

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