segunda-feira, 15 de abril de 2013

Acaso


O dia se anuncia cheiroso perto da grama. Meu bairro me trata bem. Com a luz do sol entrando pelos vãos das árvores, espero-te passar de novo pela rua. Aguardo sentado enquanto vejo carros em fila. Pego meu livro da mochila. Fones nos ouvidos. Blue de Chanel atrás das orelhas e a hortelã cuidadosa no hálito.

Em meu exercício mental imagino-te linda, sentada; com teu sorriso no canto do rosto. Suas roupas espertas refletindo o sol nos 15 minutos em que te tenho direito de dentro do ônibus. É mantra visual. Te visualizo com capricho (como se fizesse diferença) igual aprendi naquele filme esquisito “O Segredo”. Torcendo para se materializar. Ponho uma música inspiradora como se fosse meditar. E funciona.

Uma hora antes acordo com o grilo do meu iPhone cantando histérico. Não me importo mais de levantar. Administro os minutos como se fosse um árabe, sabendo que tenho uma margem pequena para não te deixar passar.

Eu ando com pressa mas não corro. Gosto de deixar ao acaso. Mas não muito. Não sinto que preciso correr. Numerologia besta de quem conta os minutos com os olhos e nem precisa olhar. Eu apenas sei. Conto com a sorte para atravessar a rua. O acaso é nosso amigo. Você sempre chega na hora e eu sempre estou lá.

Então eu acho que é um sinal. Me convenço. Faz mais de um mês que o brilho do sol no caminho não me ofusca mais e o verão nem acabou... Um olhar híbrido de interesse jocoso e familiaridade não me deixam mais ler meu livro.

Você me ofusca o olhar.Reluto, pondero, relevo. Então decido te conhecer. Resolvo me sentar ao teu lado e conversar uns minutos. Só para saber. Respiro fundo fingindo auto confiança selo a decisão: eu vou falar com você. Morro de vergonha. Mas vou.

O ônibus chega. Guardo o livro na mochila. Tento falar com você por alguns dias mas sempre tem cara diferente do teu lado. Será que eles tiveram a mesma ideia? Tomara que não...

Até o dia que acontece e para meu pânico completo você é ótima. Tem os óculos iguais aos meus e é bem mais bela de perto. Te visualizei errado... desculpa. Tiro os óculos para te ver melhor e você faz o mesmo. Olho no olho. Sorrimos com o cantos dos lábios. Riso nervoso. Aproveitando nossa meia dúzia de coisas boas em comum. Mais dois minutos elas viram 20.

E a viagem se passa em 3 minutos... Desço sorrindo. Coloco os óculos de novo.

Te escrevo: tenho várias perguntas. Faço apenas duas.
O silêncio para uma pergunta também é uma resposta.
Daí os dias passam e não te vejo mais. Você não passa.
Continuo no meu livro.

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