terça-feira, 23 de abril de 2013

QUANDO ELA USA RIDER ROSA

(imagem ilustrativa - esse não é o calçado citado)



Tenho 1,66 de altura. Sou mais baixo que a maioria dos meus amigos e isso nunca me deu azia. Quando eu era mais novo cheguei a ficar frustrado com alguns foras ou desaprovações femininas mas isso nunca foi muito grave. Foram poucos casos. Para minha sorte eu não sou feio – o que compensa um pouco a minha condição.

O lance da minha altura me atrapalhou sim em outras ocasiões. As prateleiras mais altas do supermercado ou algum eventual valentão que não se intimidou pelos meus anos de Jiu-Jitsu fizeram parte das poucas ocorrências. O Jiu-jitsu nunca precisei usar de verdade e no supermercado sempre tem um tiozinho altão carregando as prateleiras por perto que gentilmente alcança para mim a garrafa de dois litros de óleo de fazer massagem com fragrância de chocolate e menta.

Mas houve uma coisa positiva que aprendi a avaliar durante vida: a reação calçadológica feminina com relação à minha altura. Uma indicação infalível e constante na dinâmica da conquista. O truque é observar o calçado que a gata usa a partir do nosso segundo ou terceiro encontro: se o sapato é de salto baixo isso indica que a garota está afim. Simples assim. 

A maior parte das moças que eu fico são mais altas que eu. Passei a reparar nisso e concluí que 90% das vezes que rolou alguma coisa, o sapato era sem salto, sandália, ou sapatilha.

Eu honestamente tenho uma paciência irritante quando o assunto é conquistar uma bela mulher. Consigo sair com ela várias vezes e não fazer nada demais. Consigo não avançar o sinal. Juro; eu sou assim. Não reajo muito bem aos foras então sempre preferi dar o bote depois de já ter certeza que será tiro certo.

Mas...

Naquela noite, quando a porta se abriu, ela calçava um par de chinelos Rider cor de rosa. Aqueles... de plástico, com a tira larga espumada por dentro, meio encardidos, ressecados e imperdoavelmente... rosas...

Foi um tipo de curiosidade mórbida. Fiquei instantaneamente hipnotizado por aquela lancha medonha que lembrava o futom da Barbie. Uma posta de borracha igual a que sua prima usava pra levar o cachorro passear enquanto fumava escondida escutando Gun & Roses no Waklman.

Pensei que não fabricavam mais desses. Achei que tinham proibido. Se não proibiram deviam proibir. Na hora que vi (um segundo depois da porta abrir) fiquei desnorteado. De fato aquela mulher não estava me dando mole mesmo - algo que eu confirmaria depois.

Um pezinho bonitinho, unhas pintadas, anel no dedinho... Pode falar que é cafona. Eu adoro anel no dedinho, igual ao filme Jackie Brown. Mas bem que ela podia estar descalça. Ela não queria ficar nem sexy, nem na altura ideal. Ela estava confortável em seu apartamento “optando pelo simples”: simplesmente foda-se: estou  de Rider e você que foda.

Aquilo doeu mais do que um fora. Me tirou o prumo. Era ao mesmo tempo um fora, um caso de descaso estético e ao mesmo tempo descaso social. De fato naquela noite não teve bandeira verde para mim. Teve bandeira rosa. Passei algumas semanas com aquilo na cabeça. O alerta podólogo me vinha na forma de um par de chinelos velhos dos anos 90. Como uma lagarta amarela e venenosa, perambulando sem medo na Amazônia, falando através das cores que ela não era de comer.

Um tempo depois viajamos à trabalho para o Nordeste. Hotel de luxo, evento grande, calor na cidade. Já na noite em que chegamos combinamos de sair. Eu passaria em seu quarto para levá-la para jantar.

Fiz a barba, arrumei o quarto e visualizei em imagens brilhantes uma linda e romântica noite pela frente igual ensinaram no filme “O Segredo”. Passei perfume e escondi os preservativos no criado mudo fechando o quarto fazendo figas.

Quando ela abriu a porta estava linda. Uma saia colorida de algum tecido bem fino e leve que eu obviamente não sei o nome por que sou macho, uma blusinha branca levemente apertada, colarzinho exótico e os pés... descalços (?!) Mais uma vez meu método de interpretação “Podólover” me jogava para o acostamento. Com aquela menina não tinha interpretação de tênis.

Ela me deu um beijinho de “oi” e me pediu para entrar porque estava terminando de se arrumar. Me ofereceu uma long neck trincando e me pediu para sentar.

Concorreu com o barulho do secador de cabelos durante alguns minutos, falando de dentro do banheiro da suíte. Fui elegante e mesmo sem entender nada do que dizia concordei com todas as palavras. Deixou a porta entreaberta para que eu conseguisse ver sua sombra dançar.

O que parecia impossível aconteceu: ela saiu mais linda do que entrou. Colocou o cartão e os cigarros dentro de uma pequena bolsa e me estendeu a mão dizendo que estava pronta.

Me levantei. Pude então ver seus pés por trás da cama. Calçava uma mini-sandália de couro, ultrafina, de tirinhas; linda e sem salto algum. Me disse: - o que acha da gente jantar e depois voltamos para beber por aqui?!

Concordei com a cabeça; feliz como um cachorro com a cabeça para fora da janela do carro. Aquela noite eu estava pé quente. Pensei comigo mesmo: Acho que vou ter que chamar o tiozinho altão para alcançar a garrafa de dois litros de óleo de massagem de chocolate com menta na volta.

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