terça-feira, 23 de abril de 2013

Luthor

Era o mais alto prédio da cidade. Suas colunas laterais se projetavam no horizonte como enormes fontes de luz. Refletores gigantes o iluminava por baixo tornando-o um marco único na paisagem. Gostava de pensar que, qualquer um que o quisesse ver teria de olhar para cima.

Uma cobertura daquele tamanho abrigaria umas 10 famílias com conforto. 30 se fossem chineses. Mas neste momento ele era o único ali. Vazia, escura, ecoando o vento e o Jazz. Suas cortinas iluminadas como fantasmas familiares, voando para fora das janelas. Ele apertou o copo e pensou rangendo os dentes: "- eu construí esta cidade para você...”

Mais de 70 andares para cima ele se postava bem na beira. Olhava atônito para o horizonte comtemplando luzes cintilando no movimento no evaporar orgânico da cidade. O vento que balançava suas roupas provando com agressividade que ele estava alto demais. Cuidou apenas para que sua gravata não se molhasse no copo de Whisky.

Apertando os dentes e punhos ele a procurava quase tolo com os olhos. Se inclinava como se fosse possível vê-la daquela altura. Reparando em cada esquina, cada janela, cada carro que tivesse a mesma cor que o dela... Inútil. “Eu construí esta cidade para você...”

Tentava se lembrar como tudo aquilo começou. Lembrava-se do porquê tinha acabado. Lembrou dos mimos, dos carinhos, das coisas que comprou para selar seu amor. Funcionou durante um tempo. Ele sabia que ela o achava encantador.

Neste momento ela poderia estar em qualquer lugar. Não estava com ele. Sabia que não estaria em nenhum lugar que a fosse procurar. Estava solta. Agora livre, ferida e certa de seu novo destino. “Eu construí esta cidade para você...”

Algumas roupas ainda estavam ali. Muito mais do que ele se lembrava. Encontrava seus rastros pela casa de maneira randômica. Quando menos esperava, quando menos precisava, quando menos queria. A via no quadro que compraram juntos ou nos dois porquinhos de cerâmica remanescentes, depois que o terceiro caiu da cômoda enquanto faziam amor.

Partindo-se pelo chão, em milhares de pedaços coloridos... Família desfeita.

Era uma bela metáfora... “Eu construí esta cidade para você...”

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