Era o mais alto prédio da cidade. Suas colunas laterais se projetavam no
horizonte como enormes fontes de luz. Refletores gigantes o iluminava por baixo
tornando-o um marco único na paisagem. Gostava de pensar que, qualquer um que o
quisesse ver teria de olhar para cima.
Uma cobertura daquele tamanho abrigaria umas 10 famílias com conforto.
30 se fossem chineses. Mas neste momento ele era o único ali. Vazia, escura,
ecoando o vento e o Jazz. Suas cortinas iluminadas como fantasmas familiares, voando
para fora das janelas. Ele apertou o copo e pensou rangendo os dentes: "- eu construí esta cidade para
você...”
Mais de 70 andares para cima ele se postava bem na beira. Olhava atônito
para o horizonte comtemplando luzes cintilando no movimento no evaporar
orgânico da cidade. O vento que balançava suas roupas provando com
agressividade que ele estava alto demais. Cuidou apenas para que sua gravata
não se molhasse no copo de Whisky.
Apertando os dentes e punhos ele a procurava quase tolo com os olhos. Se
inclinava como se fosse possível vê-la daquela altura. Reparando em cada
esquina, cada janela, cada carro que tivesse a mesma cor que o dela... Inútil. “Eu construí esta cidade para
você...”
Tentava se lembrar como tudo aquilo começou. Lembrava-se do porquê tinha
acabado. Lembrou dos mimos, dos carinhos, das coisas que comprou para selar seu
amor. Funcionou durante um tempo. Ele sabia que ela o achava encantador.
Neste momento ela poderia estar em qualquer lugar. Não estava com ele.
Sabia que não estaria em nenhum lugar que a fosse procurar. Estava solta. Agora livre, ferida e certa de seu novo destino. “Eu
construí esta cidade para você...”
Algumas roupas ainda estavam ali. Muito mais do que ele se lembrava.
Encontrava seus rastros pela casa de maneira randômica. Quando menos esperava,
quando menos precisava, quando menos queria. A via no quadro que compraram
juntos ou nos dois porquinhos de cerâmica remanescentes, depois que o terceiro
caiu da cômoda enquanto faziam amor.
Partindo-se pelo chão, em milhares de pedaços coloridos... Família
desfeita.
Era uma bela metáfora... “Eu
construí esta cidade para você...”
Encantador me parece uma palavra familiar....
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